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Meus vinte e nove anos em Carnaubais


Num dia de maio de 1985 eu chegava a essa cidade na "carritela" de um trator. Sem malas, debaixo de chuva a noite. 

Acompanhava meus pais que fugiam da enchente na época em que a barragem inaugurada naquele ano quase se rompia.

O caudaloso rio Açu de barreira a barreira transbordava. Era assustador ver a água engolindo tudo. Deixamos Tabatinga para trás. 

Aqui chegando, moramos inicialmente no final da avenida Manoel Batista, a direita. Alugamos a casinha de dona Maria Bonita.

Matriculei-me no Abel e fui, modesta a parte, um bom aluno. Tinha uma fascinação pelo estudo. Fiz de tudo um pouco para ajudar a renda de casa. Lembro da fartura de piabas na lagoa em frente a cidade. Diversão e comida garantida. Fiz muitas amizades que continuam até hoje.

Conto esta história a propósito dos 40 anos da nova cidade de Carnaubais, transferida para este local devido também a enchente do rio Açu em 1974. Talvez, por isso esteja presente nos corações dos carnaubaenses um forte sentimento de [re]construção, de força e fé, próprias dos varzeanos.

Carnaubais é pequena no tamanho, mas grande em acolher. Sim, muitas coisas precisam melhorar, pois entre as inundações do passado e as projeções do futuro há um presente a ser trabalhado. E todos nós fazemos parte desse processo.

Penso que amar a nossa terra não é gostar do nosso quintal.

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