Além de todas as dificuldades causadas pela pandemia de Covid-19, a violência contra o idoso foi uma triste situação que se intensificou nestes últimos anos. Segundo dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, comparado aos anos anteriores ao surto da doença, houve um aumento de mais de 100% em denúncias de violações dos direitos deste grupo.
Em
2018, foram registradas 37.490 denúncias através do Disque 100. Já em 2021 e 2022,
o total foi de 88.336 e 80.658, respectivamente. Lembrando, quarta-feira
passada 15 foi o Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa
Idosa.
De acordo com o Sistema de Vigilância de Violências e
Acidentes (Viva), do Ministério da Saúde, na maior parte dos casos, os
agressores são os próprios filhos da vítima (29,7%), o que pode ter
influenciado no aumento exponencial de violência durante o isolamento, de
acordo com a professora de Direito da Estácio e pós-graduada em Demandas
Sociais e Políticas Públicas de Inclusão Social, Claudine Rodembusch. “A
conclusão é que as medidas de isolamento para controlar o vírus resultaram no
aumento da violência baseada no gênero, abuso e negligência de pessoas idosas
confinadas com parentes e cuidadores”, comenta a docente.
Porém, esses números podem ser ainda mais altos,
considerando que a maioria das denúncias são apenas de violência física, pois é
o tipo mais fácil de ser identificado. “Ao contrário do que muitas pessoas
pensam, a violência contra idosos não é caracterizada apenas por abusos
físicos, mas psicológicos também. Ameaças, abandono, exploração financeira, não
cuidar da pessoa idosa como se deve também são formas de abuso. Tudo o que pode
comprometer a integridade física e/ou emocional do idoso deve ser considerado
violência”, explica Claudine.
Para fazer valer o direito e proteção do idoso, é
imprescindível que as pessoas próximas estejam atentas para identificar
possíveis casos de violência. “Se a sociedade estiver consciente dos sinais de
violência e sabe os meios para denúncia pode haver uma ação de proteção mais
rápida em favor deste este idoso”, pontua Marizeth Barros, professora do curso
de Serviço Social da Estácio.
Segundo a assistente social, os sinais vão além de marcas
físicas. Podem indicar um histórico de violência ou sofrimento mental: aspecto
de medo ou nervosismo por parte do idoso na presença de determinada pessoa,
falta de apetite constante, perda de peso, aparência de descuido e falta
de higiene, frequentes relatos de quedas com explicações improváveis. Outro ponto importante, segundo Marizeth, é
atentar sobre o responsável direto pelo cuidado com o idoso, seja profissional
ou familiar. “Algumas das observações a serem feitas são: se ele dificulta ou
evita que o idoso fique a sós com outras pessoas, interrompe as respostas dadas
pelo idoso, o responsabiliza por tudo que acontece, até mesmo pelas condições
de saúde, e ainda demonstra insatisfação com a tarefa de cuidador”, orienta a
especialista.
DENÚNCIAS ANÔNIMAS: Como realizar?
As denúncias podem ser feitas pelo Disque 100, de qualquer
local do Brasil, por telefone fixo ou celular. A ligação é gratuita e recebe
denúncias sobre qualquer tipo de violação de direitos humanos. Os casos são
analisados e encaminhados aos órgãos de proteção e defesa da região da
ocorrência. O denunciante é mantido em sigilo, seja ele o próprio idoso
violentado ou um terceiro. “O serviço pode ser considerado como ‘pronto
socorro’ dos direitos humanos pois atende também graves situações de violações
que acabaram de ocorrer ou que ainda estão em curso, acionando os órgãos
competentes, possibilitando o flagrante”, explica Claudine.
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