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segunda-feira, 27 de abril de 2020

A cidade que mata o futuro: Altamira enfrenta um cruel aumento de suicídios de adolescentes



Até este momento —27 de abril— nenhuma pessoa morreu por covid-19 em Altamira, no Pará. Mas, de janeiro até hoje, 15 pessoas se suicidaram, segundo o Centro de Perícias Científicas Renato Chaves, da Secretaria de Segurança Pública do Governo do Estado do Pará: 9 deles eram jovens entre os 11 e os 19 anos, uma tinha 26 anos e os outros cinco variavam dos 32 aos 78 anos.

A média no Brasil, segundo o DataSus, é de 6 suicídios a cada 100.000 habitantes. Altamira tem uma população estimada em 115.000. O número de mortes de 2020 coloca a cidade amazônica, em menos de quatro meses, com quase o triplo da média brasileira anual de suicídios — e já é igual ao total de 15 mortes autoinfligidas registradas no município durante o ano inteiro de 2019.

Mesmo para um país que tem testemunhado o aumento do número de suicídios na juventude, as estatísticas de Altamira são alarmantes. Sem apoio do poder público, os movimentos sociais fazem um mutirão para impedir mais mortes.

A pergunta que atravessa a população é: por quê? E por que agora?
 
Em Altamira, parte dos adolescentes que se suicidaram deixou uma carta de despedida no Facebook e enviou mensagens para familiares e amigos pelo WhatsApp.  A fragilidade da rede de saúde mental, não só em Altamira, como no restante do Brasil, é flagrante.

Um dos adolescentes que se suicidou em Altamira deixou uma carta que tem sido muito discutida pelos adultos envolvidos na busca por prevenção...

“Perdão por isso que eu vou fazer, tirar a própria vida, fazer tantos que me amam sofrerem, mas eu não aguento mais isso, a dor interna que eu sinto já é maior que eu, é impossível descrever. (...) Abri meus olhos sobre o quanto eu não sou capaz e o quanto esse mundo é podre, só tem maldade e hipocrisia. (...) Vou mostrar da pior forma o que é um sentimento de indignação, sentido por muitos, mas expressado por poucos. Nada nesse mundo me faz feliz do jeito que eu quero. (...) Quero deixar claro que não é minha intenção causar sofrimento a ninguém, mas foi uma escolha que eu fiz pra acabar com meu inferno interior, a dor já era muito grande. (...) Eu apenas não consegui aceitar certas coisas, e eu já estou morto por dentro”.