Por Fátima
Oliveira, médica
É o maior e mais importante projeto antipobreza do mundo |
Estou exausta de tanto ouvir que não há mais empregada
doméstica, babá, “meninas pra criar”, braços para a lavoura e as lidas das
fazendas que não são agronegócios… E que a culpa é do Bolsa Família!
Conheço muita gente que está vendendo casas de campo, médias
e pequenas propriedades rurais porque simplesmente não encontra “trabalhadores
braçais” nem para capinar um pátio, quanto mais para manter a postos “um moleque
de mandados”, como era o costume até há pouco tempo! E o fenômeno é creditado
exclusivamente ao Bolsa Família.
Esquecem a penetração massiva do capitalismo no campo que
emprega, ainda que pagando uma “merreca”, com garantias trabalhistas, em
serviços menos duros do que ficar 24 horas por dia à disposição dos “mandados”
da casa-grande, que raramente “assina carteira”. Eis a verdade!
Esquecem que a população rural no Brasil hoje é escassa.
Dados do IBGE de setembro de 2012: a população residente rural é 15% da
população total do país: 195,24 milhões.
Não há muitos braços disponíveis no campo, muito menos
sobrando e clamando por um prato de comida, gente disposta a alugar sua força
de trabalho por qualquer tostão, num regime de quase escravidão, além do que há
outras ocupações com salários e condições trabalhistas mais atraentes do que
capinar, “trabalhar de aluguel”, que em geral nem dá para comprar o “dicumê”.
Dados de 2009 já informavam que 44,7% dos moradores na zona rural auferiam
renda de atividades não agrícolas!
Basta juntar três pessoas de classe média que as críticas
negativas ao Bolsa Família brotam como cogumelos. Após a boataria de 18 de
maio, que o Bolsa Família seria extinto, esse assunto se tornou obrigatório.
Fazem questão de ignorar que ele é o maior e mais
importante programa antipobreza do mundo e foi copiado por 40 países – é uma
“transferência condicional de renda” que objetiva combater a pobreza existente
e quebrar o seu ciclo.
Atualmente, ajuda 50 milhões de brasileiros: mais de 1/4 do
povo! E investe apenas 0,8% do PIB! Sem tal dinheiro, mais de 1/4 da população
brasileira ainda estaria passando fome!
Mas há gente sem repertório humanitário, como as que
escreveram dois tuítes que recebi: “Nunca vi tanta gente nutrida nas filas dos
caixas eletrônicos para receber o Bolsa Família, até parecia fila para fazer
cirurgia bariátrica”; e “Eu também nunca havia visto tanta gente rechonchuda
reunida para sugar a bolsa-voto!”.
Como disse a minha personagem dona Lô: “Coisa de gente má que
nunca soube o que é comer pastel de imaginação; quem pensa assim integra as
hostes da campanha Cansei de Sustentar Vagabundo, que circulou nas eleições
presidenciais de 2010”. São evidências de que há gente que não se importa e até
gosta de viver num mundo em que, como escreveu Josué de Castro, em Geografia da Fome (1984):
“Metade da humanidade não come e a outra não dorme com medo da que não come…”.
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