Quando era deputado, Bolsonaro já acumulava um longo histórico de declarações preconceituosas e agressivas. Vergonhosamente, fez de seu voto pelo impeachment de Dilma Rousseff uma homenagem ao torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra.
Ao chegar à Presidência, ao contrário da
expectativa geral, continuou com o discurso de parlamentar (e daqueles bem
corporativistas).
Com a insinuação de que teria conhecimento
do destino de um desaparecido da ditadura, porém, desceu a um nível inédito de
infâmia, falta de sensibilidade e humanidade.
Para que se perceba a gravidade de suas
afirmações, considere-se que Elzita Santa Cruz, mãe de Fernando, morreu em
junho passado, aos 105 anos, sem saber o fim que seu filho teve. -- “Se o presidente
foi eleito por uma parte da população brasileira, o dever dele é governar para
todo o povo do Brasil, indistintamente”, diz Carlos Ayres Britto, ex-ministro
do STF. “O presidente precisa fazer uma distinção entre o processo eleitoral,
que já acabou, e o pleno exercício de seu cargo.”
O aviltamento da memória de uma vítima da
repressão foi apenas o ápice de uma fieira de declarações grosseiras, ofensivas
ou cabalmente falsas que Bolsonaro fez nas últimas semanas.
Diferentemente do que ocorria nos tempos
de deputado, porém, as palavras de um presidente têm consequências: o
descontrole verbal de Bolsonaro atiça ânimos já exaltados em um ambiente de
polarização tóxica e, em última instância, tumultua a pauta de modernização da
economia, que, até o momento, promete ser a realização maior de seu governo.
-- “Essas atitudes prejudicam o andamento
do país”, lamenta o sociólogo e cientista político Bolívar Lamounier. “Só
espero que o presidente não vá além disso, pois poderemos ter uma crise
institucional.”
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