Jair Bolsonaro tem o direito de aparar o
cabelo no estilo que melhor lhe aprouver, e se o fato de exibir-se em redes
sociais durante o corte das madeixas lhe dá satisfação, também isso é direito
seu – digamos, apenas, que não é lá de muito bom-tom. Mas vale, aqui, um
alerta: atos como esse tendem a desaguar em um perigoso populismo, já visto em
nossa República, que abre brecha para o autoritarismo, em nada ajudando a
pacificar o País e fazê-lo andar para frente.
O exibicionismo é problema dele e o vê nas
redes sociais somente quem quiser. Da mesma forma, Bolsonaro pode falar o que
lhe vier à cabeça dentro de sua casa, em um churrasco com amigos e parentes ou
assistindo ao futebol de chinelos, camisa de clube e calça moletom. O que ele
não pode fazer, em hipótese alguma, é seguir a matraquear, de forma
irresponsável e em todas as direções, sobre assuntos que envolvem o Estado.
Bolsonaro precisa aprender a separar o
homem privado do homem legitimado e investido, pelo voto popular, do cargo de
presidente do Brasil, uma vez que, como tal, ele representa a União, as Forças
Armadas (porque é o seu comandante em chefe) e traduz-se, enfim, como o mais
alto representante da Nação.
De forma recorrente e dentro do
comportamento padrão que montou a si, na semana passada Bolsonaro novamente não
soube exercer a distinção entre o ser público e o ser íntimo, ferindo um dos
mais elevados princípios constitucionais. Só que extrapolou, e fez isso ao
comentar a morte de Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira, assassinado sob
tortura aos vinte e seis anos, nos porões da ditadura militar.
Ele era pai do atual presidente nacional
da OAB, Felipe Santa Cruz. A Constituição saiu-se machucada porque é cláusula
pétrea a determinação de que o respeito à memória dos mortos integra a honradez
à dignidade humana.
Até políticos que ganharam votos surfando
no bolsonarismo já começam a descer da prancha ao vislumbrarem ondas de
autoritarismo. “Sou assim mesmo”, insistiu o mandatário ao dizer que não
pretende mudar.
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