Cortez Pereira pensou o RN de uma forma que ele nunca conseguiu ver. Dez anos depois de sua morte, projetos idealizados pelo ex-governador ainda são trabalhados no Estado.
À direita de Vingt Rosado está Ney Lopes e do
outro lado Cortez Pereira (com papel na mão). Foto: Blog de Lairinho Rosado
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Mais de 40 anos depois de governar o Rio Grande do
Norte (1971-1974) e há exatos 10 anos de sua morte – 21 de fevereiro -, José
Cortez Pereira de Araújo ou simplesmente Cortez Pereira é, ainda hoje, uma
presença tão poderosa e indelével que não há mais moderno, ousado e arrojado do
que ele.
Professor, advogado, pensador, estudioso do
desenvolvimentismo, Cortez Pereira foi uma dessas pedras preciosas que, em
plena vigência do regime militar, como governador biônico, construiu toda a
base da economia potiguar que perdura até hoje.
Da implantação do projeto Serra do Mel, uma
proposta de reforma agrária baseada na exploração econômica do caju, sorgo e
culturas de subsistência, passando pela disseminação do cultivo intensivo do
coco com o Projeto Boqueirão, na região de Touros, Cortez Pereira criou as
bases de boa parte do que conhecemos hoje como progresso, pelo menos do ponto
de vista de um estado que, nos anos de 1970, ainda tinha tudo por fazer.
Entrando pelas primeiras pesquisas aplicadas ao
cultivo de camarão em cativeiro, aproveitando as áreas de salinas desativadas
ou introduzindo a criação do bicho da seda, com o projeto de sericicultura na
região de Canguaretama, Cortez Pereira era um gestor ousado, capaz de enviar
auxiliares para outros países a fim de recolher subsídios que pudessem ser
úteis à realidade local.
Nem um pouco centralizador, ele reorganizou o
Estado a partir da redistribuição de responsabilidades que fizeram de
inexpressivas assessorias, secretarias importantes.
Foi o que aconteceu com as áreas de Planejamento e
Fazenda, que ganharam roupagem nova, mobilizando competências que o governador
fazia questão de ver trabalhando em sua equipe.
Um dos auxiliares mais próximos dele, que foi seu
secretário de Planejamento, é o economista Marcos César Formiga Ramos, ex-prefeito
de Natal entre 1983/1986 e que hoje ocupa uma das diretorias da Federação da
Indústria do Rio Grande do Norte (Fiern).
Conta ele que o inquieto governador gostava de
delegar missões em novos projetos, mas só com a segurança de quem entrega um
filho para ser educado. E costumava perguntar toda vez que alguma coisa grande
estava para nascer: “Pode ser feito? Então, bola pra frente!”.
E foi assim, de toque em toque, de ideia em ideia,
de projeto em projeto, que Cortez Pereira conseguiu transferir, por exemplo, a
fabricação de barrilha de Sergipe para o Rio Grande do Norte, dando uma nova
dimensão à produção salineira no estado, mediante o aproveitamento industrial
de inúmeros de seus subprodutos.
Não só isso. Graças à efervescência intelectual de
Cortez – um homem habituado a debater suas ideias em longos jantares oferecidos
em casa – nasceu iniciativas como a primeira empresa de turismo do Rio Grande
do Norte (Emprotur) e as bases para a futura construção, já no governo de
Lavoisier Maia, da Via Costeira, a despeito da ferrenha oposição sofrida.
Lembra Marcos Formiga que o primeiro ano de
Tarcísio Maia, sucessor de Cortez, foi quase que inteiramente dedicado a
concluir obras de seu antecessor. E Formiga, é claro, manteve-se firme no cargo
até o fim, algo inimaginável nos dias atuais.
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